terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Lista de Réveillon

Com a chegada do Réveillon é inevitável não fazer uma retrospectiva sobre o que aconteceu no último ano. Recordar bons e maus momentos, erros e acertos, e poder fazer um balanço com a intenção de fechar sempre com saldo positivo. Na sequência é comum estabelecer as metas para o ano novo, nascendo assim a famosa lista de Réveillon contendo desafios, por vezes, novos ou protelados há tempos.

Emagrecer ou ganhar massa na academia, ler mais, passar mais tempo com amigos e família ao invés do trabalho, são alguns exemplos das metas que migram todos os anos de lista para lista. E surge a pergunta: De que adianta fazer essa listagem se não é possível concretizar tudo que foi estabelecido?

Há que diga que a lista de réveillon é apenas mais um dos rituais de fim de ano, mas existe aqueles que afirmam que a lista ajuda a guiar os próximos passos. Eu admito que faço a retrospectiva, penso, repenso e avalio meu ano, e estabeleço as metas pós fim de ano. Percebi que as listas me ajudam a não perder o foco, lembrar a cada dia das metas que estabeleci, e no final verificar em que fui bem sucedido.

Questionar a eficácia dessa lista é algo delicado, já que o resultado depende diretamente do engajamento e a crença de quem a criou. Acredito de fazer um lembrete e deixá-lo próximo dos olhos ajuda a não perder o foco em meio a distrações e aos problemas do cotidiano. Penso ainda que é importante dividir as metas estabelecidas em três grupos - este número é apenas uma sugestão pessoal, o primeiro com as metas com prioridade zero, o segundo aquelas que podem ser realizadas a médio e longo prazo, e por fim as que foram negligenciadas e empurradas ano após ano.

É essencial saber o que incluir nessa lista, lembrando sempre é preciso estabelecer metas reais e fugir das utopias, respeitar a sequência de prioridades da lista, além de estar munido de muita força de vontade de cumprir tudo o que foi estabelecido. Uma dica é fazer uma anotação e deixá-la em um lugar onde seja possível reler a lista a cada manhã, de forma que o lembrete sirva de incentivo.


A minha lista tem entre os pontos principais, ter mais qualidade de vida, ler mais, assistir mais filmes, visitar aqueles que amo, dispor de tempo para mim e ao ócio criativo, aumentar o número de postagens no blog, e realizar objetivos dos campos profissional e pessoal.


Fato que as listas, sejam de réveillon, mercado, ou simples lembretes, servem de bússola para guiar os próximos passos. E que venha o ano novo!


Silas Macedo

domingo, 24 de agosto de 2014

Fazendo a íntima

"Fazer a íntima" é uma expressão utilizada atualmente para indicar pessoas que se aproximam de outras tentando estabelecer uma relação de intimidade que não existe.  A razão que leva as "íntimas" a demonstrar um laço fake podem ser muitos, mas, em geral surgem por questões de interesse escusos, ou ainda nos casos em que a pessoa - por vezes um recém conhecido - ache que já é alguém íntimo. Sabe se lá porque...

Recentemente alguns incidentes com pessoas que se portam desta maneira me fizeram refletir sobre essa postura e, principalmente o que é intimidade e como ela se estabelece. 

Para exemplificar, vou citar duas situações que contextualizam a pseudo-intimidade. A primeira se trata de um garoto que conheci no trabalho, na relação de educação bom dia - boa tarde, que me encontrou ao acaso em um evento social que eu organizava, e a partir deste momento a suposta relação de amizade surgiu. Oi? Nos eventos seguintes, lá estava ele "fazendo a íntima", acenando, me chamando, conversando como se fosse um amigo de longa data. Estranhei a situação e observei. Há quem diga que isso é networking, eu chamo de equívoco. 

Já a segunda, por diversas vezes, ao conhecer pessoas  novas, aprendi que devemos tratá-las com educação, respeito e simpatia. Fato que gera empatia imediata. Porém, o problema surge aí, quando os novos conhecidos não percebem a fragilidade das relações e a linha tênue que divide a intimidade da total estranheza. 

Penso que essa situação acontece principalmente por motivos ligados a carência afetiva e a total falta de senso. Há alguns dias um conhecido do meio profissional insistiu em fazer uma piada sem graça a meu respeito e, mesmo após a minha clara mudança de expressão e negativa, alertando que o limite havia sido ultrapassado, ele insistiu a brincadeira por cinco vezes seguidas.  Ele só parou quando fui ríspido e afirmei que não lhe tinha dado nenhuma intimidade para aquele tipo de piada. Como uma criança sem limites, ele disse que jamais falaria comigo novamente. Pensei: Que alívio! Terei menos dores de cabeça.

A intimidade é algo simples, que se estabelece por meio da afinidade, fortalecida com a amizade e a confiança, e perpetuada com o tempo. Sinceramente, acredito que a base para ela é bom senso e maturidade dos envolvidos. Não espere ser íntimo de alguém da noite para o dia. E falar mais sobre isso é redundante. Intimidade é para poucos.

Silas Macedo

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Sorte nas asas amarelas

Esses dias a caminho de um compromisso, parado no trânsito intenso de São Paulo, vi uma pequena borboleta amarela voando tranquilamente em meio ao caos, batendo suas asas e dançando sutilmente sobre o capô do meu carro.

Imediatamente fui remetido a lembranças da infância, das quais estavam escondidas em algum lugar do passado, e agora haviam emergido com a a mesma vivacidade de outrora. Recordei a importância de ver uma borboleta amarela...

Quando criança um amigo, na época o considerava o melhor, me ensinou que sua família acredita que ao ver uma borboleta amarela voando perto de nós era um sinal de sorte. Lembro que todas as vezes quando avistávamos os insetos era um momento eufórico, corríamos atrás delas, a contemplávamos, e fazíamos os devidos desejos do dia. Para dar credibilidade ao ritual, o pai deste amigo - um exímio pintor de quadros, artista visionário e homem do bem - afirmava a veracidade do rito, todas as vezes que nos levava para fazer trilhas e caminhadas no Horto Florestal, parque localizado na região Norte de São Paulo.

O interessante é que o tempo passa e rituais como este se perpetuam na vida. E até hoje ao ver uma borboleta amarela voando perto de mim, eu paro, contemplo, e faço meu pedido. O pai desse amigo afirmava que o mundo, e o próprio Deus, mandam sinais positivos, lampejos de luz, como um sorriso do criador para nos lembrar que tudo dará certo. E ainda que não passe de uma crença sem fundamento, ao acreditar que a sorte passa por nós, penso que podemos atraí-la por meio da Lei da Atração - afirma que os pensamentos das pessoas (tanto conscientes quanto inconscientes) ditam a realidade de suas vidas.

Lembrei ainda que haviam outros sinais; a esperança (tipo de grilo verde) traz sorte a casa que visita, o beija-flor traz boas novas, o gato avisa visita quando lava o focinho, e a mariposa negra avisa que morte está próxima, e como não lembrar da sorte trazida pela simpática joaninha.

Acredito nesses sinais, e creio que muitas pessoas pelo mundo também acreditem. Em última análise, acho válido ensinar esses rituais a todos, principalmente as crianças, para que coisas simples, como o voo de borboletas amarelas, possam resgatar pensamentos bons. E que possamos sempre nos permitir ser acometidos pela sorte e pelo o que há de bom na vida.

Silas Macedo



quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Abramos caminho para toda forma de amor. Até mesmo a tal bissexualidade

Hoje em casa curtindo folga devido a uma gripe que além de me deixar afônico, me fez sentir como se um caminhão tivesse me atropelado, ainda me permitiu assistir a novela das 21h - Império - exibida pela rede Globo, ao lado de minha irmã. Admito que a trama está legal, prende a atenção do telespectador, temas atuais, qualidade de imagem, etc., mas o que mais chamou a minha atenção foi uma cena rápida com os atores José Mayer e Susy Rêgo. 

Ela interpreta Beatriz esposa do cerimonialista Cláudio que vivem em uma família "normal", bem sucedida, com filhos, e que convive com a bissexualidade dele, ainda que as escuras. Uma cena que imediatamente me fez refletir sobre a situação... Quando falamos de bissexualidade, seja no meio heterossexual ou LGBT, é comum ouvir opiniões preconceituosas e incompreensivas do tipo: "falta de vergonha, impossível amar um homem e uma mulher, teria o dobro de cíumes, bi é o mesmo que biscate", entre outras pérolas.

Acredito que não podemos ser maniqueístas, não há um certo ou errado absoluto na vida, principalmente nas questões afetivas. No diálogo da cena, as personagens recordavam como se conheceram, como construíram o relacionamento, e fortaleceram o amor. Cláudio então pergunta a ela o que poderia acontecer caso o segredo dele fosse revelado perante a sociedade. Na cena ele demonstra medo de ter a moral abalada, e a companheira de forma veemente diz que ela estará ao lado dele até o final da vida fazendo valer os votos de amor que fizeram quando se casaram. Fiquei atônico!

Quantas pessoas seriam capazes de viver algo assim? É amor? Existe um modelo do que é ou deveria ser amor? Sentimento real, comodismo ou convenção social?

Recentemente ouvi críticas e comentários acerca de um conhecido casado com uma mulher, supostamente feliz, homossexual inconsciente (se que é que isso é possível), e que vive uma relação supostamente igual a dos personagens da trama de Aguinaldo Silva. O que dizer? Será que alguém fora dessa relação tenha o real direito de questionar? Embora façamos isso a todo instante. 

Afetos e desejos da carne necessitam estar alinhados para serem considerados amor? Por que insistimos em classificar um amor como algo imutável, formatado e entalado? Creio que a nossa incompreensão das inúmeras manifestações do amor, como a divisão do prisma em raios de luzes coloridas, remete a humanidade ainda a ignorância.

Sinceramente, gostei de ver a abordagem sobre amor e bissexualidade em um produto que atinge diretamente aos brasileiros, seja para mero entretenimento, crítica ou reflexão. Afinal uma ideia lançada é semente plantada para o futuro. Espero que nós, humanidade, percebamos que toda forma de amor é válida, pais e filhos, irmãos, amigos, gays, heteros, bissexuais, ou qualquer denominação que exista ou venha existir.

O amor, só é pleno, quando vivido e colocado a prova, longe da zona de conforto de uma perfeição utópica e vivida apenas nos antigos contos de fadas. O que fazer para continuar a amar aquele que buscou um novo amor, uma filha lésbica, um amigo gay, um genro negro, uma familiar deficiente, um ex marido bissexual? 

Sem dúvida, uma missão árdua, mas não impossível. Sem nenhuma fórmula mágica, mas que carece apenas boa vontade, paciência e disposição para praticar o tal amor.

Silas Macedo

segunda-feira, 28 de julho de 2014

De repente 30...

De repente 30... Vou me apropriar do título do filme dirigido por Gary Winick, e estrelado Jennifer Garner, para expressar o que sinto neste momento de minha vida. Hoje comemoro mais um aniversário, algo que considero um dádiva, pelo simples fato de amar a vida. Acordar a cada dia, ver a luz, respirar, e desfrutar tudo o que ela nos oferece, incluindo prazeres e dores, é, sem dúvida, um presente do universo (Deus).  

Ao olhar para trás e o momento atual, entendo porque dizem que a vida é um suspiro divino, rápido, único e intenso. O efêmero e o sagrado se misturam no paradigma do cotidiano que mescla a corrida contra o relógio e a rotina, e os momentos que ficam eternizados na tela etérea do tempo. Afirmo isso porque em flashes da memória, posso vislumbrar passagens únicas da infância, adolescência, início da vida adulta até o atual momento balzaquiano. 

E realmente "De repente 30", passou tão rápido... Aos 34 anos - sim, já sou balzaquiano há algum tempo - me percebo mais consciente, fortalecido, mais eu. Faz alguns anos que uma amiga mais velha me disse que quando eu chegasse ao 30 anos, não teria certeza do que iria querer para minha vida, mas teria absoluta certeza do que não iria querer para ela. E de fato, isso aconteceu. Ela tinha razão!

Hoje, após um período nebuloso, permeado por incertezas, hoje sei exatamente quem sou, para onde vou, e o que desejo ou não para a minha vida. Agradeço as alegrias, as dores, acertos e erros, e até o tempo que me encontrei perdido, afinal quando se admite que está perdido é o primeiro passo para encontrar o caminho a ser trilhado. E, também agradeço, a todas as pessoas que estão ou passaram pela minha vida, pois aprendi com cada uma delas, até mesmo aquelas que desejei nunca ter encontrado.

A maturidade chega, despretensiosa e sem pressa, trazendo plenitude, discernimento, cautela e consciência de si. Conversando com uma amiga querida, recordamos os tempos da faculdade, a falta de grana, sonhos, risadas, e os vinhos baratos que tomávamos em uma adega popular de Guarulhos, e comparamos com as pessoas que somos hoje. Assim como nosso paladar que ficou mais apurado, não apreciando mais vinhos ruins, nos tornamos melhores, aprendendo a dar valor ao bom da vida.

E assim como os vinhos, espero a cada ano ficar melhor, viver cada fase, aprender sempre, e retirar a essência da vida. Almejo estar a cada dia mais próximo de mim, daqueles que amo, e de Deus em todas as suas manifestações. Quero continuar a aprender com o ser humano, em todas as suas diferenças, dos mais intelectuais e espiritualizados aos xucros e almas incipientes, podendo escolher quem permanecerá ao meu lado.

Sou naturalmente saudosista, e espero um dia poder rever esta vida como um filme favorito que assistimos num dia de folga frio e chuvoso debaixo das cobertas. De resto, sou apenas gratidão por os quase 12.410 dias vividos. Ao futuro, meus melhores desejos, saúde, afetos verdadeiros cultivados como bons frutos a serem degustados na eternidade, um vida plena, e uma partida tranquila em uma cama quente após um centenário desta existência.

Silas Macedo

sexta-feira, 20 de junho de 2014

PET ROAD

Essa  cachorrinha foi clicada em um dia ensolarado na praia do Guaraú, extremo litoral Norte de São Paulo. Praia deserta, mar tranquilo, poucas pessoas, e ela desfrutando deste paraíso.

Segundo os moradores do local, e a salva-vidas, a simpática cachorra não tinha nome, vivia livre, com a única preocupação de amamentar os filhotes de vez em quando, e viver a liberdade e o melhor da vida.

Brinquei com ela, corremos pela praia, e mesmo depois de termos ficado lado ao lado contemplando o mar, ela levantou, se aproximou, fez um afago (roçando o focinho em mim), e foi embora sem olhar para trás.

Refleti e percebi, viver a liberdade plena é isso.

Silas Macedo

terça-feira, 6 de maio de 2014

Boato,informação e barbárie

Nesta última segunda-feira (5) o espancamento de uma mulher ganhou destaque nos principais periódicos e telejornais do País. A dona de casa Fabiane Maria de Jesus, 33 anos, morreu na manhã desta segunda após ter sido espancada por dezenas de moradores do Guarujá, no litoral de São Paulo, agredida a partir de um boato lançado em uma rede social que afirmava que uma mulher, com supostamente as mesmas características físicas que ela, sequestrava crianças para sacrificá-las em rituais de magia negra.

Ao ler as notícias e assistir as reportagens fiquei estarrecido diante de tanta barbárie. A primeira coisa que pensei foi que voltamos ao tempo das cavernas, perdemos o intelecto e deixamos a animosidade tomar conta de nós. A cena da mulher arrastada por homens, outras mulheres, e ainda crianças, espancada, sangrando, levada como um troféu em meio a risos, e gritos é realmente assustador.

O caso está senso investigado, o site que lançou a informação de forma irresponsável na rede negou os fatos, e se posicionou dizendo que não vai se manifestar com o intuito de não atrapalhar as investigações. Diante disso, inevitável não pensar sobre o processo de evolução ou retrocesso de alguns seres humanos.

O primeiro ponto a ser refletido é sobre a veracidade da informação e, principalmente, a responsabilidade em transmiti-lá. Quanto a imprensa vale lembrar o caso clássico da Escola Base - cujo a vida dos diretores da escola infantil foi destruída após terem sido acusados de abusar das crianças dentro da instituição, o que era falso - que remete os comunicadores sobre a responsabilidade de transmitir uma informação. 

E quanto aqueles que não trabalham com comunicação? Qual a responsabilidade de cada pessoa ao passar uma informação adiante? Será que pensamos e agimos da forma correta ao passar um boato ou notícia adiante? Questionamos a veracidade do fato? E ainda se isso vai ajudar ou prejudicar alguém? Penso que muitos problemas seriam evitados com uma mudança de postura simples, inclusive poupado a vida de Fabiane.

O segundo ponto é sobre a barbárie. Como que direito e baseado em que os agressores desta mãe acharam que poderiam agredi-la até a morte, ainda que ela fosse a tal sequestradora de crianças? Os crimes foram confirmados? Quais as provas? Não é necessário o trabalho de investigação da polícia e a interseção da Justiça? Veredito popular foi o fator decisivo para matar esta mulher de forma tão cruel?

E penso ainda sobre esses homens e mulheres, pais e mães, acompanhado por crianças, filhos ou não, como testemunhas oculares da morte com violência para punir uma "criminosa". Que referência de respeito ao próximo essas crianças terão após terem uma lição como esta? Qual o nível de consciência dessas pessoas? Creio que nenhum, apenas animosidade.

Acredito que muitos dos agressores não queriam apenas "justiça", mas também exteriorizar suas insatisfações diante da vida, frustrações e, acima de tudo, seu ódio e violência, escondidos em comportamentos e sorrisos de pseudo-normalidade. Fatos como este, estão perto de nós, camuflados e esquecidos na rotina e negligência. Há duas semanas, ouvi o relato sobre um homem que foi amarrado em um poste, em pleno meio dia, na Avenida Humberto de Alencar Castelo Branco, em Guarulhos, para apanhar dos moradores do local, após ter sido apanhado tentando roubar um mercadinho do bairro - fato não comprovado.

Espero que este texto nos ajude a refletir sobre como receber uma informação, notícia, boato ou fofoca, e questionar a veracidade e o peso dela, e se devemos repercuti-la. E principalmente, sobre nosso posicionamento diante da vida, e o que cultivamos em nós e no próximo. Violência e ódio ou amor e compreensão? E , quase como uma utopia, espero que notícias como essas não voltem a ser veiculadas porque simplesmente não acontecem mais.


Silas Macedo

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Medida para a competitividade

Hoje tive uma experiência em meu ambiente de trabalho que me fez refletir sobre os parâmetros para o trabalho em grupo e a competitividade dentro dele? Acredito que um dos grandes mistérios da esfinge - decifra-me ou te devoro - é saber qual a medida certa para a competitividade? Como fazer dela algo que estimule o ser humano individualmente ou dentro de um grupo? Como fazer com que ela torne o ambiente saudável e prazeroso, e não algo desestimulante, desgastante e estressante? E ainda mais, como fazer com que a competição seja algo saudável e positivo?

Vamos começar pelo trabalho em equipe para iniciar uma reflexão sobre a competitividade. Em grupos, seja no âmbito corporativo, familiar e, por vezes, na esfera afetiva, é comum sempre contar com a competência do outro - esperar que ele seja capaz de cumprir com suas responsabilidades, empatia e bom senso. Mas a realidade é bem diferente, porque o trabalho em grupo é prejudicado devido a falta de comprometimento, visão do todo, preguiça, egoísmo e uma série de interesses pessoais escusos.  

Ao meu ver, a única forma de resolver o problema é estruturar corretamente este grupo, pensando seu funcionamento, e adequando cada integrante com suas qualidades e peculiaridades com uma peça fundamental no funcionamento da máquina. É necessário que o grupo queira atingir o mesmo resultado - como uma embarcação, onde todos em funções diferentes almejam o mesmo norte. Deve-se levar em conta a motivação individual - quais os motivos pelos quais a pessoa integra este grupo, seja por questões financeiras ou pessoais. 

Neste ponto surge um desafio, como fazer com que a competitividade sirva de combustível fazendo com que a "embarcação" siga rumo ao sucesso? Aprendi de forma empírica que alguns gestores formam grupos heterogêneos e inserem nele pessoas extremamente agressivas na tentativa de incentivar o grupo a lutar por bons resultados. Será mesmo que essa técnica funciona? Talvez funcione em meio a pessoas agressivas, intelectualmente menos favorecidas, com índole e moral duvidosa, e despreparadas profissionalmente, de forma que elas tentam a qualquer custo obterem os "melhores resultados". Ao meu ver, sinceramente, acho um grande equívoco. Esta situação ao longo do tempo só causará desgaste e gradativamente perda de resultados.


O ideal é tornar consciente a ideia e grupo, máquina, onde cara um é uma peça única e necessária para o bom andamento do todo. Ainda mais conosco, brasileiros, que somos extremamente cordiais. Não que sejamos gentis e bondosos, mas guiados pelo coração, como já defendeu Sérgio Buarque de Holanda no livro Casa-Grande e Senzala. 

A experiência com minha atual equipe de trabalho, após muitas arestas aplainadas, conseguiu resolver essa equação colocando em prática este conceito. Podemos atingir o resultado almejado, incluindo âmbitos coletivos e individuais, sem nos engalfinhar, por meio da cooperação e ajuda mútua. Quanto mais conscientes e intelectualizados, menos impulsivos e animalescos somos. Para tentar ser mais claro, não há emocional e físico que não sucumba a um ambiente agressivo, desleal e estressante causado por uma competição agressiva. 

Ao final do dia todos os integrantes de minha equipe obtiveram excelentes resultados, destacando que estavam iguais em números, e ainda dispostos a superar a meta estabelecida. É importante lembrar que a competitividade positiva esteve presente durante todo o dia com frases do tipo: "Que audácia! Me alcançou. Vou correr para que ninguém me alcance." Seguido de risadas leves e descontraídas. 

Resumo da ópera: ótimos resultados, alto nível de satisfação e quase nenhum estresse, e zero morto ou ferido na batalha de matar um leão por dia. Espero que cada integrante das diversas máquinas existentes, independente de níveis hierárquicos, possam ter essa consciência e implementar ações que almejem encontrar a medida certa para a competitividade.


Silas Macedo

domingo, 13 de abril de 2014

Éter contra o Metal

Em meio a Paulicéia Desvairada um artista anônimo compartilha sua música, seu melhor, e sua alma. 

Prédios, carros, pressa e gente que corre. 

Sucintamente o som rompe as barreiras da insensibilidade. 

A música ecoa e toca discretamente os corações, até mesmo dos desatentos. 

Muitos passam, alguns olham, e o artista continua a canção. 

Ao final, silêncio, e novamente o rugido da cidade. 

Ele respira, se encoraja, e logo volta a tocar com a fé que alguém irá escutar.


Silas Macedo
                                                                                                         vídeo: Silas Macedo


terça-feira, 8 de abril de 2014

Convide sua melhor companhia para dar um passeio especial

Hoje me permiti fazer um convite especial, a uma pessoa que há tempos não sentava para jogar conversa fora, rir, contemplar o mundo, e fazer o que mais gostamos. Antes de fazer o convite questionei quais os motivos que me afastaram tanto dele. Seria o ritmo frenético do dia a dia, displicência, ou priorizar coisas com menos valor? 

Em plena segunda-feira, relutando contra hábitos preguiçosos que por tradição fazem parte do primeiro dia da semana, levantei, abri a janela, e pronto fiz o convite para eu mesmo sair de casa para fazer um passeio especial. Apenas eu e eu mesmo!

Me alimentei bem, vesti a melhor e mais confortável roupa, borrifei um perfume leve, e segui rumo ao passeio tão esperado. Primeiro cuidei do corpo - consultando um médico e fazendo um check-up, com direito a bate papo e risadas - eis uma das vantagens de consultar sempre o mesmo profissional. Depois fui caminhar tranquilamente pela Avenida Paulista - local muito estimado por mim - para cuidar e arejar a alma. Olhei ao meu redor e vi muitas pessoas passarem por mim em ritmo frenético, uma multidão estranhamente solitária.  

Almocei comida japonesa na companhia de uma ex-namorada - hoje uma grande amiga, fiz compras, achei um DVD que eu buscava há tempos sobre o caso amoroso de Salvador Dalí e Federico Garcia Lorca, andei por um livraria que adoro, contemplei a apresentação de um músico em meio ao caos da Paulicéia Desvairada, tomei outro café com uma prima que encontrei por acaso, ouvi um CD esquecido no carro da ex há anos, agora devolvido, com músicas queridas que a cada canção fizeram que lembrasse ainda mais de mim, e por fim degustei saborosamente meu favorito bolo de leite Ninho.

Ao final do dia estava repleto de mim, e reenergizado. Inevitável não lembrar do conselho de uma amiga querida: "Por vezes nossa melhor companhia somos nós mesmos. É legal convidar-se para um passeio." E não é que ela tinha razão!

Diante da vivência e também de relatos de amigos e até desconhecidos, questionei o fato de muitas vezes projetarmos nossa felicidade no outro. Quantas vezes precisamos do outro para ser feliz ou tentar ludibriar a solidão? Por que é tão difícil para algumas pessoas irem ao cinema sozinhas por exemplo? E quando isso se estende ao relacionamento a dois, é comum ver pessoas projetando suas vidas sobre o outro e não junto do outro.

Penso que somos educados a ver no silêncio, na contemplação, e na solidão algo ruim. Ainda crescemos com mitos mal compreendidos sobre a alma gêmea, o que remete muitos a buscar pelo mundo a outra metade. Mas, então somos seres incompletos? Sinceramente, creio que não, porque somos complexos demais para isso. Creio que o ideal é buscar alguém para caminhar ao nosso lado, como dois barcos que resolvem navegar lado a lado mar a dentro, e independente das adversidades estarem juntos por escolha. E nunca tentar a utopia de transformar as duas embarcações em uma só.

E outra condição do nosso tempo é o medo de estar só, de fazer coisas sozinho, receio da rejeição do grupo e da sociedade. Os homens do nosso tempo têm buscado estabelecer laços para não se sentirem sós e deslocados, e ao mesmo tempo deixam os laços frouxos de forma que possam ser desfeitos de forma indolor quando necessário for. Ao meu ver é a falsa sensação de não estar só, contrariando a real necessidade do homem de trilhar seu caminho rumo à evolução sozinho.

Diante de tantas divagações, penso que para não se sentir só é necessário estar bem consigo mesmo, com a alma plena e preenchida. Somente aí teremos condições de não ser abalado pelo fantasma da solidão, e poder conviver bem com as pessoas, sem projetar nelas nossas frustrações e ainda não cobrar o que elas jamais podem nos dar. 

E sugiro - não como uma verdade, mas apenas como o conselho de alguém que também está trilhando o caminho - que você convide sua melhor companhia para dar um passeio. E espero que possa perceber que quando estamos repletos de nós - seja sozinhos ou em meio a uma multidão - é possível sermos felizes e ainda compartilhar isso por meio de generosidade refletida em boas ações e sorrisos.


Silas Macedo