quarta-feira, 2 de maio de 2012

Frágeis e preciosas relações

A vida começa, e com ela o primeiro grão de areia despenca rumo a contagem regressiva na ampulheta que leva a morte. A cada dia, um novo nascer do sol, e com ele oportunidades para conhecer e desfrutar da experiência de viver. Independente de crença ou religião, que discutem a veracidade da continuação pós-morte, seja na ressurreição, reencarnação ou imortalidade da alma, é fácil vislumbrar - em meio a tantas incertezas - qual o saldo real e positivo da vida. Arrisco afirmar que são as relações, amizades, amores e vivências, as únicas preciosidades que de alguma forma serão imortalizadas.

É comum ver em despedidas ou sepultamentos, pessoas recordando e falando das memórias, do jeito de sorrir, falar, qualidades e defeitos, de alguém que não mais estará fisicamente entre os presentes. A morte é, e sempre foi, o maior mistério da humanidade. Afinal, qual o sentido da vida? Uma pergunta que desde sempre ronda os pensamentos de homens e mulheres ao longa da história.

Porém, há vezes que grandes mistérios dão indícios de como serem resolvidos por meio das formas mais simples. O que seriam a memória, a saudade e o bem querer, se não sinais da imortalidade. E não me refiro a recordação impressa em fotos, mas aquela que pode ser vista refletida nos olhos de alguém que lembra de forma carinhosa aqueles que já seguiram ao encontro da morte. Pensamentos e lembranças não seriam desenhos sutis que desmistificam a morte e comprovam a imortalidade? Creio que sim.

E diante da resolução de tal equação, é possível perceber a importância em cultivar boas e verdadeiras relações durante a vida, porque somente as amizades e amores verdadeiros serão o saldo positivo ao final da jornada terrestre. Algo tão precioso e frágil, que muitas vezes negligenciamos por motivos infundamentados. Uma discussão de ideias, pequenas divergências, egoísmos e medos se fazem suficientes para ofuscar o valores das verdadeiras relações.

Quem nunca brigou com alguém que ama? Quem nunca se arrependeu? Quem nunca ficou longe de quem se ama por um bobagem? E enquanto buscamos justificativas - completamente sem valores - para endossar a ausência, o tempo corre, e cada grão de areia da ampulheta é desperdiçado. Tempo suficiente para aproveitar cada momento, cultivar boas relações e dizer que ama. Afinal, dizem que apenas brigamos com quem amamos, com quem realmente faz diferença em nossas vidas.

Que alívio, quando o véu da mágoa cai dos olhos, permitindo que amizades e amores sejam reatados. Um suspiro tranquilo, já que a areia continua cair, só que agora podendo ser usufruída da forma que realmente merece.

E ao perceber essa realidade, sejamos capazes de literalmente cultivar as relações, cuidando de quem amamos, reconquistando diariamente a pessoa que almejamos  passar o resto de nossas vidas, reacendendo a paixão, reafirmando valores como lealdade, perpetuando as verdadeiras amizades, e fortalecendo os laços familiares. 

Uma missão difícil, tendo em vista que a vida não é só flores, mas, sem dúvida, possível de ser cumprida. Basta dispensar atenção ao que realmente necessita. E, caso haja pessoas que desejam viver o contrário, respeite o livre arbítrio, e siga rumo a felicidade e a plenitude.

Por isso, se eu pudesse dar um conselho valioso, não titubeie em fazer as pazes e dizer o quanto ama alguém. A vida é preciosa demais para ser desperdiçada com tolices.


Silas Macedo