domingo, 24 de agosto de 2014

Fazendo a íntima

"Fazer a íntima" é uma expressão utilizada atualmente para indicar pessoas que se aproximam de outras tentando estabelecer uma relação de intimidade que não existe.  A razão que leva as "íntimas" a demonstrar um laço fake podem ser muitos, mas, em geral surgem por questões de interesse escusos, ou ainda nos casos em que a pessoa - por vezes um recém conhecido - ache que já é alguém íntimo. Sabe se lá porque...

Recentemente alguns incidentes com pessoas que se portam desta maneira me fizeram refletir sobre essa postura e, principalmente o que é intimidade e como ela se estabelece. 

Para exemplificar, vou citar duas situações que contextualizam a pseudo-intimidade. A primeira se trata de um garoto que conheci no trabalho, na relação de educação bom dia - boa tarde, que me encontrou ao acaso em um evento social que eu organizava, e a partir deste momento a suposta relação de amizade surgiu. Oi? Nos eventos seguintes, lá estava ele "fazendo a íntima", acenando, me chamando, conversando como se fosse um amigo de longa data. Estranhei a situação e observei. Há quem diga que isso é networking, eu chamo de equívoco. 

Já a segunda, por diversas vezes, ao conhecer pessoas  novas, aprendi que devemos tratá-las com educação, respeito e simpatia. Fato que gera empatia imediata. Porém, o problema surge aí, quando os novos conhecidos não percebem a fragilidade das relações e a linha tênue que divide a intimidade da total estranheza. 

Penso que essa situação acontece principalmente por motivos ligados a carência afetiva e a total falta de senso. Há alguns dias um conhecido do meio profissional insistiu em fazer uma piada sem graça a meu respeito e, mesmo após a minha clara mudança de expressão e negativa, alertando que o limite havia sido ultrapassado, ele insistiu a brincadeira por cinco vezes seguidas.  Ele só parou quando fui ríspido e afirmei que não lhe tinha dado nenhuma intimidade para aquele tipo de piada. Como uma criança sem limites, ele disse que jamais falaria comigo novamente. Pensei: Que alívio! Terei menos dores de cabeça.

A intimidade é algo simples, que se estabelece por meio da afinidade, fortalecida com a amizade e a confiança, e perpetuada com o tempo. Sinceramente, acredito que a base para ela é bom senso e maturidade dos envolvidos. Não espere ser íntimo de alguém da noite para o dia. E falar mais sobre isso é redundante. Intimidade é para poucos.

Silas Macedo

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Sorte nas asas amarelas

Esses dias a caminho de um compromisso, parado no trânsito intenso de São Paulo, vi uma pequena borboleta amarela voando tranquilamente em meio ao caos, batendo suas asas e dançando sutilmente sobre o capô do meu carro.

Imediatamente fui remetido a lembranças da infância, das quais estavam escondidas em algum lugar do passado, e agora haviam emergido com a a mesma vivacidade de outrora. Recordei a importância de ver uma borboleta amarela...

Quando criança um amigo, na época o considerava o melhor, me ensinou que sua família acredita que ao ver uma borboleta amarela voando perto de nós era um sinal de sorte. Lembro que todas as vezes quando avistávamos os insetos era um momento eufórico, corríamos atrás delas, a contemplávamos, e fazíamos os devidos desejos do dia. Para dar credibilidade ao ritual, o pai deste amigo - um exímio pintor de quadros, artista visionário e homem do bem - afirmava a veracidade do rito, todas as vezes que nos levava para fazer trilhas e caminhadas no Horto Florestal, parque localizado na região Norte de São Paulo.

O interessante é que o tempo passa e rituais como este se perpetuam na vida. E até hoje ao ver uma borboleta amarela voando perto de mim, eu paro, contemplo, e faço meu pedido. O pai desse amigo afirmava que o mundo, e o próprio Deus, mandam sinais positivos, lampejos de luz, como um sorriso do criador para nos lembrar que tudo dará certo. E ainda que não passe de uma crença sem fundamento, ao acreditar que a sorte passa por nós, penso que podemos atraí-la por meio da Lei da Atração - afirma que os pensamentos das pessoas (tanto conscientes quanto inconscientes) ditam a realidade de suas vidas.

Lembrei ainda que haviam outros sinais; a esperança (tipo de grilo verde) traz sorte a casa que visita, o beija-flor traz boas novas, o gato avisa visita quando lava o focinho, e a mariposa negra avisa que morte está próxima, e como não lembrar da sorte trazida pela simpática joaninha.

Acredito nesses sinais, e creio que muitas pessoas pelo mundo também acreditem. Em última análise, acho válido ensinar esses rituais a todos, principalmente as crianças, para que coisas simples, como o voo de borboletas amarelas, possam resgatar pensamentos bons. E que possamos sempre nos permitir ser acometidos pela sorte e pelo o que há de bom na vida.

Silas Macedo



quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Abramos caminho para toda forma de amor. Até mesmo a tal bissexualidade

Hoje em casa curtindo folga devido a uma gripe que além de me deixar afônico, me fez sentir como se um caminhão tivesse me atropelado, ainda me permitiu assistir a novela das 21h - Império - exibida pela rede Globo, ao lado de minha irmã. Admito que a trama está legal, prende a atenção do telespectador, temas atuais, qualidade de imagem, etc., mas o que mais chamou a minha atenção foi uma cena rápida com os atores José Mayer e Susy Rêgo. 

Ela interpreta Beatriz esposa do cerimonialista Cláudio que vivem em uma família "normal", bem sucedida, com filhos, e que convive com a bissexualidade dele, ainda que as escuras. Uma cena que imediatamente me fez refletir sobre a situação... Quando falamos de bissexualidade, seja no meio heterossexual ou LGBT, é comum ouvir opiniões preconceituosas e incompreensivas do tipo: "falta de vergonha, impossível amar um homem e uma mulher, teria o dobro de cíumes, bi é o mesmo que biscate", entre outras pérolas.

Acredito que não podemos ser maniqueístas, não há um certo ou errado absoluto na vida, principalmente nas questões afetivas. No diálogo da cena, as personagens recordavam como se conheceram, como construíram o relacionamento, e fortaleceram o amor. Cláudio então pergunta a ela o que poderia acontecer caso o segredo dele fosse revelado perante a sociedade. Na cena ele demonstra medo de ter a moral abalada, e a companheira de forma veemente diz que ela estará ao lado dele até o final da vida fazendo valer os votos de amor que fizeram quando se casaram. Fiquei atônico!

Quantas pessoas seriam capazes de viver algo assim? É amor? Existe um modelo do que é ou deveria ser amor? Sentimento real, comodismo ou convenção social?

Recentemente ouvi críticas e comentários acerca de um conhecido casado com uma mulher, supostamente feliz, homossexual inconsciente (se que é que isso é possível), e que vive uma relação supostamente igual a dos personagens da trama de Aguinaldo Silva. O que dizer? Será que alguém fora dessa relação tenha o real direito de questionar? Embora façamos isso a todo instante. 

Afetos e desejos da carne necessitam estar alinhados para serem considerados amor? Por que insistimos em classificar um amor como algo imutável, formatado e entalado? Creio que a nossa incompreensão das inúmeras manifestações do amor, como a divisão do prisma em raios de luzes coloridas, remete a humanidade ainda a ignorância.

Sinceramente, gostei de ver a abordagem sobre amor e bissexualidade em um produto que atinge diretamente aos brasileiros, seja para mero entretenimento, crítica ou reflexão. Afinal uma ideia lançada é semente plantada para o futuro. Espero que nós, humanidade, percebamos que toda forma de amor é válida, pais e filhos, irmãos, amigos, gays, heteros, bissexuais, ou qualquer denominação que exista ou venha existir.

O amor, só é pleno, quando vivido e colocado a prova, longe da zona de conforto de uma perfeição utópica e vivida apenas nos antigos contos de fadas. O que fazer para continuar a amar aquele que buscou um novo amor, uma filha lésbica, um amigo gay, um genro negro, uma familiar deficiente, um ex marido bissexual? 

Sem dúvida, uma missão árdua, mas não impossível. Sem nenhuma fórmula mágica, mas que carece apenas boa vontade, paciência e disposição para praticar o tal amor.

Silas Macedo