terça-feira, 8 de abril de 2014

Convide sua melhor companhia para dar um passeio especial

Hoje me permiti fazer um convite especial, a uma pessoa que há tempos não sentava para jogar conversa fora, rir, contemplar o mundo, e fazer o que mais gostamos. Antes de fazer o convite questionei quais os motivos que me afastaram tanto dele. Seria o ritmo frenético do dia a dia, displicência, ou priorizar coisas com menos valor? 

Em plena segunda-feira, relutando contra hábitos preguiçosos que por tradição fazem parte do primeiro dia da semana, levantei, abri a janela, e pronto fiz o convite para eu mesmo sair de casa para fazer um passeio especial. Apenas eu e eu mesmo!

Me alimentei bem, vesti a melhor e mais confortável roupa, borrifei um perfume leve, e segui rumo ao passeio tão esperado. Primeiro cuidei do corpo - consultando um médico e fazendo um check-up, com direito a bate papo e risadas - eis uma das vantagens de consultar sempre o mesmo profissional. Depois fui caminhar tranquilamente pela Avenida Paulista - local muito estimado por mim - para cuidar e arejar a alma. Olhei ao meu redor e vi muitas pessoas passarem por mim em ritmo frenético, uma multidão estranhamente solitária.  

Almocei comida japonesa na companhia de uma ex-namorada - hoje uma grande amiga, fiz compras, achei um DVD que eu buscava há tempos sobre o caso amoroso de Salvador Dalí e Federico Garcia Lorca, andei por um livraria que adoro, contemplei a apresentação de um músico em meio ao caos da Paulicéia Desvairada, tomei outro café com uma prima que encontrei por acaso, ouvi um CD esquecido no carro da ex há anos, agora devolvido, com músicas queridas que a cada canção fizeram que lembrasse ainda mais de mim, e por fim degustei saborosamente meu favorito bolo de leite Ninho.

Ao final do dia estava repleto de mim, e reenergizado. Inevitável não lembrar do conselho de uma amiga querida: "Por vezes nossa melhor companhia somos nós mesmos. É legal convidar-se para um passeio." E não é que ela tinha razão!

Diante da vivência e também de relatos de amigos e até desconhecidos, questionei o fato de muitas vezes projetarmos nossa felicidade no outro. Quantas vezes precisamos do outro para ser feliz ou tentar ludibriar a solidão? Por que é tão difícil para algumas pessoas irem ao cinema sozinhas por exemplo? E quando isso se estende ao relacionamento a dois, é comum ver pessoas projetando suas vidas sobre o outro e não junto do outro.

Penso que somos educados a ver no silêncio, na contemplação, e na solidão algo ruim. Ainda crescemos com mitos mal compreendidos sobre a alma gêmea, o que remete muitos a buscar pelo mundo a outra metade. Mas, então somos seres incompletos? Sinceramente, creio que não, porque somos complexos demais para isso. Creio que o ideal é buscar alguém para caminhar ao nosso lado, como dois barcos que resolvem navegar lado a lado mar a dentro, e independente das adversidades estarem juntos por escolha. E nunca tentar a utopia de transformar as duas embarcações em uma só.

E outra condição do nosso tempo é o medo de estar só, de fazer coisas sozinho, receio da rejeição do grupo e da sociedade. Os homens do nosso tempo têm buscado estabelecer laços para não se sentirem sós e deslocados, e ao mesmo tempo deixam os laços frouxos de forma que possam ser desfeitos de forma indolor quando necessário for. Ao meu ver é a falsa sensação de não estar só, contrariando a real necessidade do homem de trilhar seu caminho rumo à evolução sozinho.

Diante de tantas divagações, penso que para não se sentir só é necessário estar bem consigo mesmo, com a alma plena e preenchida. Somente aí teremos condições de não ser abalado pelo fantasma da solidão, e poder conviver bem com as pessoas, sem projetar nelas nossas frustrações e ainda não cobrar o que elas jamais podem nos dar. 

E sugiro - não como uma verdade, mas apenas como o conselho de alguém que também está trilhando o caminho - que você convide sua melhor companhia para dar um passeio. E espero que possa perceber que quando estamos repletos de nós - seja sozinhos ou em meio a uma multidão - é possível sermos felizes e ainda compartilhar isso por meio de generosidade refletida em boas ações e sorrisos.


Silas Macedo

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