segunda-feira, 21 de abril de 2014

Medida para a competitividade

Hoje tive uma experiência em meu ambiente de trabalho que me fez refletir sobre os parâmetros para o trabalho em grupo e a competitividade dentro dele? Acredito que um dos grandes mistérios da esfinge - decifra-me ou te devoro - é saber qual a medida certa para a competitividade? Como fazer dela algo que estimule o ser humano individualmente ou dentro de um grupo? Como fazer com que ela torne o ambiente saudável e prazeroso, e não algo desestimulante, desgastante e estressante? E ainda mais, como fazer com que a competição seja algo saudável e positivo?

Vamos começar pelo trabalho em equipe para iniciar uma reflexão sobre a competitividade. Em grupos, seja no âmbito corporativo, familiar e, por vezes, na esfera afetiva, é comum sempre contar com a competência do outro - esperar que ele seja capaz de cumprir com suas responsabilidades, empatia e bom senso. Mas a realidade é bem diferente, porque o trabalho em grupo é prejudicado devido a falta de comprometimento, visão do todo, preguiça, egoísmo e uma série de interesses pessoais escusos.  

Ao meu ver, a única forma de resolver o problema é estruturar corretamente este grupo, pensando seu funcionamento, e adequando cada integrante com suas qualidades e peculiaridades com uma peça fundamental no funcionamento da máquina. É necessário que o grupo queira atingir o mesmo resultado - como uma embarcação, onde todos em funções diferentes almejam o mesmo norte. Deve-se levar em conta a motivação individual - quais os motivos pelos quais a pessoa integra este grupo, seja por questões financeiras ou pessoais. 

Neste ponto surge um desafio, como fazer com que a competitividade sirva de combustível fazendo com que a "embarcação" siga rumo ao sucesso? Aprendi de forma empírica que alguns gestores formam grupos heterogêneos e inserem nele pessoas extremamente agressivas na tentativa de incentivar o grupo a lutar por bons resultados. Será mesmo que essa técnica funciona? Talvez funcione em meio a pessoas agressivas, intelectualmente menos favorecidas, com índole e moral duvidosa, e despreparadas profissionalmente, de forma que elas tentam a qualquer custo obterem os "melhores resultados". Ao meu ver, sinceramente, acho um grande equívoco. Esta situação ao longo do tempo só causará desgaste e gradativamente perda de resultados.


O ideal é tornar consciente a ideia e grupo, máquina, onde cara um é uma peça única e necessária para o bom andamento do todo. Ainda mais conosco, brasileiros, que somos extremamente cordiais. Não que sejamos gentis e bondosos, mas guiados pelo coração, como já defendeu Sérgio Buarque de Holanda no livro Casa-Grande e Senzala. 

A experiência com minha atual equipe de trabalho, após muitas arestas aplainadas, conseguiu resolver essa equação colocando em prática este conceito. Podemos atingir o resultado almejado, incluindo âmbitos coletivos e individuais, sem nos engalfinhar, por meio da cooperação e ajuda mútua. Quanto mais conscientes e intelectualizados, menos impulsivos e animalescos somos. Para tentar ser mais claro, não há emocional e físico que não sucumba a um ambiente agressivo, desleal e estressante causado por uma competição agressiva. 

Ao final do dia todos os integrantes de minha equipe obtiveram excelentes resultados, destacando que estavam iguais em números, e ainda dispostos a superar a meta estabelecida. É importante lembrar que a competitividade positiva esteve presente durante todo o dia com frases do tipo: "Que audácia! Me alcançou. Vou correr para que ninguém me alcance." Seguido de risadas leves e descontraídas. 

Resumo da ópera: ótimos resultados, alto nível de satisfação e quase nenhum estresse, e zero morto ou ferido na batalha de matar um leão por dia. Espero que cada integrante das diversas máquinas existentes, independente de níveis hierárquicos, possam ter essa consciência e implementar ações que almejem encontrar a medida certa para a competitividade.


Silas Macedo

domingo, 13 de abril de 2014

Éter contra o Metal

Em meio a Paulicéia Desvairada um artista anônimo compartilha sua música, seu melhor, e sua alma. 

Prédios, carros, pressa e gente que corre. 

Sucintamente o som rompe as barreiras da insensibilidade. 

A música ecoa e toca discretamente os corações, até mesmo dos desatentos. 

Muitos passam, alguns olham, e o artista continua a canção. 

Ao final, silêncio, e novamente o rugido da cidade. 

Ele respira, se encoraja, e logo volta a tocar com a fé que alguém irá escutar.


Silas Macedo
                                                                                                         vídeo: Silas Macedo


terça-feira, 8 de abril de 2014

Convide sua melhor companhia para dar um passeio especial

Hoje me permiti fazer um convite especial, a uma pessoa que há tempos não sentava para jogar conversa fora, rir, contemplar o mundo, e fazer o que mais gostamos. Antes de fazer o convite questionei quais os motivos que me afastaram tanto dele. Seria o ritmo frenético do dia a dia, displicência, ou priorizar coisas com menos valor? 

Em plena segunda-feira, relutando contra hábitos preguiçosos que por tradição fazem parte do primeiro dia da semana, levantei, abri a janela, e pronto fiz o convite para eu mesmo sair de casa para fazer um passeio especial. Apenas eu e eu mesmo!

Me alimentei bem, vesti a melhor e mais confortável roupa, borrifei um perfume leve, e segui rumo ao passeio tão esperado. Primeiro cuidei do corpo - consultando um médico e fazendo um check-up, com direito a bate papo e risadas - eis uma das vantagens de consultar sempre o mesmo profissional. Depois fui caminhar tranquilamente pela Avenida Paulista - local muito estimado por mim - para cuidar e arejar a alma. Olhei ao meu redor e vi muitas pessoas passarem por mim em ritmo frenético, uma multidão estranhamente solitária.  

Almocei comida japonesa na companhia de uma ex-namorada - hoje uma grande amiga, fiz compras, achei um DVD que eu buscava há tempos sobre o caso amoroso de Salvador Dalí e Federico Garcia Lorca, andei por um livraria que adoro, contemplei a apresentação de um músico em meio ao caos da Paulicéia Desvairada, tomei outro café com uma prima que encontrei por acaso, ouvi um CD esquecido no carro da ex há anos, agora devolvido, com músicas queridas que a cada canção fizeram que lembrasse ainda mais de mim, e por fim degustei saborosamente meu favorito bolo de leite Ninho.

Ao final do dia estava repleto de mim, e reenergizado. Inevitável não lembrar do conselho de uma amiga querida: "Por vezes nossa melhor companhia somos nós mesmos. É legal convidar-se para um passeio." E não é que ela tinha razão!

Diante da vivência e também de relatos de amigos e até desconhecidos, questionei o fato de muitas vezes projetarmos nossa felicidade no outro. Quantas vezes precisamos do outro para ser feliz ou tentar ludibriar a solidão? Por que é tão difícil para algumas pessoas irem ao cinema sozinhas por exemplo? E quando isso se estende ao relacionamento a dois, é comum ver pessoas projetando suas vidas sobre o outro e não junto do outro.

Penso que somos educados a ver no silêncio, na contemplação, e na solidão algo ruim. Ainda crescemos com mitos mal compreendidos sobre a alma gêmea, o que remete muitos a buscar pelo mundo a outra metade. Mas, então somos seres incompletos? Sinceramente, creio que não, porque somos complexos demais para isso. Creio que o ideal é buscar alguém para caminhar ao nosso lado, como dois barcos que resolvem navegar lado a lado mar a dentro, e independente das adversidades estarem juntos por escolha. E nunca tentar a utopia de transformar as duas embarcações em uma só.

E outra condição do nosso tempo é o medo de estar só, de fazer coisas sozinho, receio da rejeição do grupo e da sociedade. Os homens do nosso tempo têm buscado estabelecer laços para não se sentirem sós e deslocados, e ao mesmo tempo deixam os laços frouxos de forma que possam ser desfeitos de forma indolor quando necessário for. Ao meu ver é a falsa sensação de não estar só, contrariando a real necessidade do homem de trilhar seu caminho rumo à evolução sozinho.

Diante de tantas divagações, penso que para não se sentir só é necessário estar bem consigo mesmo, com a alma plena e preenchida. Somente aí teremos condições de não ser abalado pelo fantasma da solidão, e poder conviver bem com as pessoas, sem projetar nelas nossas frustrações e ainda não cobrar o que elas jamais podem nos dar. 

E sugiro - não como uma verdade, mas apenas como o conselho de alguém que também está trilhando o caminho - que você convide sua melhor companhia para dar um passeio. E espero que possa perceber que quando estamos repletos de nós - seja sozinhos ou em meio a uma multidão - é possível sermos felizes e ainda compartilhar isso por meio de generosidade refletida em boas ações e sorrisos.


Silas Macedo