quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Abramos caminho para toda forma de amor. Até mesmo a tal bissexualidade

Hoje em casa curtindo folga devido a uma gripe que além de me deixar afônico, me fez sentir como se um caminhão tivesse me atropelado, ainda me permitiu assistir a novela das 21h - Império - exibida pela rede Globo, ao lado de minha irmã. Admito que a trama está legal, prende a atenção do telespectador, temas atuais, qualidade de imagem, etc., mas o que mais chamou a minha atenção foi uma cena rápida com os atores José Mayer e Susy Rêgo. 

Ela interpreta Beatriz esposa do cerimonialista Cláudio que vivem em uma família "normal", bem sucedida, com filhos, e que convive com a bissexualidade dele, ainda que as escuras. Uma cena que imediatamente me fez refletir sobre a situação... Quando falamos de bissexualidade, seja no meio heterossexual ou LGBT, é comum ouvir opiniões preconceituosas e incompreensivas do tipo: "falta de vergonha, impossível amar um homem e uma mulher, teria o dobro de cíumes, bi é o mesmo que biscate", entre outras pérolas.

Acredito que não podemos ser maniqueístas, não há um certo ou errado absoluto na vida, principalmente nas questões afetivas. No diálogo da cena, as personagens recordavam como se conheceram, como construíram o relacionamento, e fortaleceram o amor. Cláudio então pergunta a ela o que poderia acontecer caso o segredo dele fosse revelado perante a sociedade. Na cena ele demonstra medo de ter a moral abalada, e a companheira de forma veemente diz que ela estará ao lado dele até o final da vida fazendo valer os votos de amor que fizeram quando se casaram. Fiquei atônico!

Quantas pessoas seriam capazes de viver algo assim? É amor? Existe um modelo do que é ou deveria ser amor? Sentimento real, comodismo ou convenção social?

Recentemente ouvi críticas e comentários acerca de um conhecido casado com uma mulher, supostamente feliz, homossexual inconsciente (se que é que isso é possível), e que vive uma relação supostamente igual a dos personagens da trama de Aguinaldo Silva. O que dizer? Será que alguém fora dessa relação tenha o real direito de questionar? Embora façamos isso a todo instante. 

Afetos e desejos da carne necessitam estar alinhados para serem considerados amor? Por que insistimos em classificar um amor como algo imutável, formatado e entalado? Creio que a nossa incompreensão das inúmeras manifestações do amor, como a divisão do prisma em raios de luzes coloridas, remete a humanidade ainda a ignorância.

Sinceramente, gostei de ver a abordagem sobre amor e bissexualidade em um produto que atinge diretamente aos brasileiros, seja para mero entretenimento, crítica ou reflexão. Afinal uma ideia lançada é semente plantada para o futuro. Espero que nós, humanidade, percebamos que toda forma de amor é válida, pais e filhos, irmãos, amigos, gays, heteros, bissexuais, ou qualquer denominação que exista ou venha existir.

O amor, só é pleno, quando vivido e colocado a prova, longe da zona de conforto de uma perfeição utópica e vivida apenas nos antigos contos de fadas. O que fazer para continuar a amar aquele que buscou um novo amor, uma filha lésbica, um amigo gay, um genro negro, uma familiar deficiente, um ex marido bissexual? 

Sem dúvida, uma missão árdua, mas não impossível. Sem nenhuma fórmula mágica, mas que carece apenas boa vontade, paciência e disposição para praticar o tal amor.

Silas Macedo

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