quinta-feira, 11 de março de 2010

A morte...

É como essa imagem, forte e emocional, registrada pelos olhos atentos e sensíveis do fotógrafo, Diego Calvo, que começo meu relato sobre mais uma experiência na área jornalística e, sobretudo, uma vivência humana.

Eu sou repórter de rua, trabalho em um jornal impresso, há mais de um mês. Nesse período, tenho visitado lugares, conhecido pessoas e me transportado para mundos desconhecidos, ou melhor, até agora ignorados.

Em especial, nesta última segunda-feira, estava cobrindo uma pauta sobre problemas com contas de luz e abastecimento de energia elétrica, quando fomos - eu e o Diego - acionados a cobrir um atropelamento, na Avenida Presidente Humberto de Alencar Castelo Branco, conhecida popularmente em Guarulhos como Anel Viário.

Quando chegamos, encontramos no local a amiga e jornalista, Juliana Carneiro e, a fotógrafa, Wendy Vatanabe, que também faziam a cobertura do caso. Diante da situação, procedimento padrão - verificar testemunhas, coletar informações com a polícia e profissionais do SAMU e obter dados da vítima.

A vítima era um senhor de 72 anos, aposentado, pai e avô, que trabalhava com a coleta de material reciclado nas ruas da cidade. Ele foi atropelado por um carro em alta velocidade, guiado por um motorista inconsequente que não prestou socorro.

É necessário ressaltar, que está foi a primeira vez que cobri esse tipo de situação. Admito que lidar com a morte, brutal e inesperada, mesmo de um estranho, é algo difícil.

Observei a cena e meditei sobre o fato, enquanto o fotógrafo registrava as imagens. Ao longe, vi duas jovens chorando copiosamente. Minutos depois, chega um táxi, e dele desembarcam a esposa e a filha vítima. Sem dúvida, a primeira vez que acompanho o desespero e a incapacidade humana diante da morte.

A mulher - registrada na foto acima - ficou desesperada ao reconhecer o marido deitado na rua, coberto por um tipo de papel alumínio.

Quanto a mim, me emocionei, não pude conter as lágrimas. Fui tomado por uma vontade imensa de acalentar e apaziguar a dor daquelas pessoas. Mas, percebi minha falta de força naquele momento. Cheguei a conclusão que naquele momento, poderia apenas, rezar sem silêncio por eles.

Minha amiga, uma jornalista sensível e mais experiente, percebeu a situação e pediu para que eu fosse embora. Fiquei impressionado com a cena. No caminho, ainda podia ouvir os ecos do grito de alguém que chamada desesperadamente pelo nome do companheiro.

Refletindo, percebi que tenho que criar certo "distanciamento" da situação, porque, caso contrário, isso pode me abater todas às vezes. Em contrapartida, sei que jamais poderei deixar apagar em meu peito a chama da humanidade, que me impede de cair na indiferença e falar que era apenas mais um.

Para fechar o aprendizado, no decorrer da semana, a matéria realizada pela Juliana Carneiro teve grande repercussão. A polícia local engajou-se de encontrar o culpado pelo crime e, por meio da matéria desta grande jornalista, o caso foi solucionado.

Enfim... Nada justifica a morte daquele homem. Mas, sem dúvida, ver o caso solucionado por meio do trabalho jornalístico é extremamente inspirador e gratificante.

Silas Macedo

4 comentários:

  1. Nossaaa Silas.... vc conseguiu mexer comigo com o seu texto. Fiquei todinha arrepiada e com os olhos marejados. Parecia que eu estava no local junto com vc!

    Não fomos criados para morrer, não sabemos lidar com isso. É muito triste

    Manda um imenso beijo para a Ju!

    beijos Beatriz

    ResponderExcluir
  2. Olá...
    Já falei que sou sua fã? Já falei que tenho muito orgulho de você? Hehehehehe...
    Muito bem senhor Silas, é isso ai, nossa profissão é cheia de surpresas e de emoções para as quais, talvez, ainda não estejamos preparados, mas nada melhor do que o dia a dia para nos ensinar a lidar melhor com o fatídico.
    A questão não é esconder as emoções, apenas saber controlá-las, isso você tira de letra meu bem...
    Bjks!!!

    ResponderExcluir
  3. Eu vi uma lágrima descendo do seu olho e pior do que essa lágrima que desceu e o aperto no peito, esse que a gente não consegue colocar para fora.

    O tempo ensina a lidar um pouco melhor com as situações do dia a dia. Nessa profissão, esse não será o primeiro corpo, nem a última esposa a chorar desesperadamente.

    É triste, mas a gente aprende a lidar com a situação, mas pode acreditar que eu não me acostumo nunca, pois ainda tenho a chama do ser humano bem acesa dentro de mim...

    Ficamos em cima, e o crime não ficará em vão... Fizemos nosso trabalho!!!

    ResponderExcluir
  4. É Silas, estamos sujeitos a este tipo de cenário também.
    Saiba, que por alguns segundos vivi este cenários contigo, pois seu texto tocou-me.
    Com certeza é uma experiência nova que nos deixa de mãos atadas. Contudo espero que encontre forças em Deus para enfrentar situações semelhantes de modo que, auxilie a policia, informe a população com veracidade e transmita esperaça a quem precise.

    Abraços,

    Késia Soares

    ResponderExcluir