segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Doutores Cidadãos - Resgate dos valores humanistícos

Os doutores palhaços realizam o trabalho de resgatar os valores humanos dentro do ambiente hospitalar, ajudando a equipe e os pacientes. Conheça um pouco mais sobre esse trabalho

Para falar sobre esse trabalho o Palanque de Ideias entrevistou um dos fundadores do grupo dos Doutores Cidadãos, Roberto Ravagnari, conhecido também como Dr. Ispaguetti, para falar da importância desse trabalho nos hospitais.



Palanque Como surgiu o trabalho dos Doutores Cidadãos?

Dr. Ispaguetti Surgiu através da inspiração do trabalho realizado por outro doutor, o conhecido Dr. Patch Adamns. A partir do contato com a realidade desse profissional, me senti imbuido de entusiasmo, e resolvi criar o primeiro personagem, chamado Dr. Ispaguetti Saracura. Daí em diante seguiram dois anos e meio, com o Dr. Ispaguetti visitando sozinho o Hospital Estadual Brigadeiro, na capital de São Paulo. Aos poucos houve a repercussão do trabalho voluntário no hospital, fato que gerou a expansão do grupo, tanto em número de voluntários quanto em número de hospitais e pacientes atendidos. No final de 2002, a primeira turma de voluntários começou a ser treinada para integrarem os Doutores Cidadãos.

Palanque Qual a diferença do trabalho realizado pelos Doutores Cidadãos e outros grupos que realizam esse tipo de trabalho nos hospitais?

Dr. Ispaguetti A principal diferença está na escolha do público, que não são apenas as crianças, mas os adultos. Muita gente pergunta: Afinal, adulto gosta de palhaço? A resposta é percebida na interação com cada ser humano que precisa apenas de atenção e carinho. Outra diferença é que o grupo é formado essencialmente por voluntários e não atores.

Palanque Quais os métodos usados pelo grupo?

Dr. Ispaguetti O primeiro passo é a caracterização que permite ao voluntário quebrar possíveis barreiras entre os seres humanos. O segundo é aprender a utilizar o lúdico para ganhar a confiança das pessoas a quem é direcionada a atuação. Levando não só piadas, balões ou mágicas, mas a vontade de ouvir a história de quem está ali e poder mostrar de forma indireta que para tudo existe solução. O conceito de humanização hospitalar seguido pelos Doutores Cidadãos assemelha-se com o trabalho do Dr. Hunter Patch Adams, que teve a sua obra mundialmente conhecida quando levada às telas do cinema.

Palanque Quem pode participar dessa iniciativa?

Dr. Ispaguetti Qualquer pessoa a partir de 17 anos, que tenha o interesse e disponibilidade para desenvolver um trabalho voluntário e que queira aplicar doses de energia positiva no ambiente hospitalar.

Palanque Qual a importância desse trabalho na recuperação dos pacientes?

Dr. Ispaguetti É praticamente impossível mensurar o quão bem faz este ou qualquer outro tipo de atividade de arte e terapia para as pessoas, pacientes ou não. Mas é possível afirmar com absoluta certeza que qualquer trabalho que venha deixar a pessoa mais tranquila, mais autoconfiante, a torna mais receptiva aos tratamentos aplicados e aos procedimentos indicados.

Palanque Como é o relacionamento e a interação do grupo e a equipe do hospital?

Dr. Ispaguetti Como o profissional de saúde é um dos nossos focos de atendimento, nos preocupamos em atendê-los da melhor forma. Para isso procuramos entender cada vez mais suas angústias, necessidades e aflições, para que nosso atendimento tenha a maior eficiência possível. Creio que o resultado tem se mostrado extremamente positivo, pois hoje não estranhamos mais um pedido de visita deixado pelo enfermeiro ou médico, e não nos surpreende quando somos cobrados por uma ausência eventual pelos profissionais. Hoje na maioria dos casos temos um relacionamento extremamente saudável com esses “loucos” adoráveis que são os profissionais de saúde.

Palanque Qual uma situação que marcou sua participação nesse trabalho?

Dr. Ispaguetti Creio que a situação que mais nos marcou foi a de um paciente, José Domingos, que foi atendido pelo Dr. Ispaguetti (Roberto Ravagnani) por mais de dois anos e logo depois também pelo Doutor Raviolli (Felipe Mello). José sempre dizia em nossas visitas que um dia ficaria curado da leucemia e faria este trabalho conosco. E assim a profecia se tornou realidade, ficou bom, participou de nosso treinamento e começou a atuar, se interessou tanto pelo trabalho que logo se tornou monitor de novos voluntários. Mas um dia a doença voltou, depois de um ano e meio de sua recuperação e em pouco tempo, mais precisamente três meses, a doença o levou embora. Se a história tivesse seu fim aqui, já teria valido a pena todo o trabalho que realizamos, mas qual não foi nossa surpresa quando em um dos processos seletivos para novos voluntários a irmã do José Domingos estava lá. Hoje sua irmã é uma Doutora Cidadã e já traz outras gerações para conhecer e participar do trabalho que seu irmão conheceu, valorizou e nos mostrou a importância dele para quem precisa de uma palavra amiga.

Palanque Ser um Doutor Cidadão é...

Dr. Ispaguetti Ter a disposição para ser gentil em um mundo hostil, buscar alegria em um mundo que só vê tristeza e tentar transformar o hospital em um lugar de saúde e não de doenças.

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